Um novo estudo sobre o enigmático tubarão-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus) sugere que os animais nascem no Atlântico central profundo e, ao entrarem na “adolescência”, deslocam-se cada vez mais em direção à Europa. Os pesquisadores identificaram o estreito de Skagerrak, entre a Dinamarca, a Noruega e a Suécia, como o habitat e a área de caça preferidos nessa fase.
Gigantes do frio – e do tempo
Os tubarões-da-Groenlândia podem atingir até 6,4 metros de comprimento e viver vários séculos. Habitam preferencialmente áreas frias e profundas do Atlântico Norte e muitas vezes acabam como captura acessória em equipamentos de pesca – um risco para esta espécie ainda pouco estudada. No novo estudo, 1.610 indivíduos de 11 regiões foram registrados quanto ao tamanho, sexo e estágio de desenvolvimento.
Na maioria das regiões, predominaram as fêmeas subadultas. As fêmeas adultas eram raras ou estavam ausentes no Ártico canadense setentrional e em torno de Svalbard, mas eram muito mais comuns no sudoeste da Groenlândia e na Islândia. No Ártico canadense meridional, bem como ao largo do noroeste e sudeste da Groenlândia, as fêmeas adultas foram encontradas principalmente em áreas distantes da costa – a profundidades entre 25 e 1.375 metros e em temperaturas da água de −1,54 °C a 10,9 °C. As fêmeas adultas preferiam temperaturas acima de 4 °C.
Off she goes! We have now tagged our first Greenland shark in the Skagerrak sea. A 3.5m beauty! 😍These calm giants are mesmerizing, and I can't wait until we get the data back. Epic teamwork by @HellstromKGV @DrBrodin, D. Palm and our skilled collaborators. @SLUwildresearch pic.twitter.com/R9S5V4ZtQ4
— Petter Lundberg (@lundberg_petter) July 20, 2022
O Skagerrak como ponto de encontro juvenil – e pista para o berçário
Juvenis maiores foram observados em muitas regiões, mas foram particularmente comuns no Skagerrak e em áreas afastadas da costa do Ártico canadense meridional. Os recém-nascidos ou juvenis muito pequenos continuaram raros – mas dados de arquivos e coleções científicas revelaram um agrupamento notável ao longo da dorsal mesoatlântica e no mar de Irminger. Isso sugere que as principais áreas de parto estão provavelmente localizadas ali, em vez de – como se supunha anteriormente – em torno da Ilha de Baffin, no Ártico canadense.
Uma vantagem: essas áreas profundas do Atlântico central são menos afetadas pela pesca, o que pode beneficiar a prole.
Necessidade de proteção das fêmeas grandes
O tubarão-da-Groenlândia está classificado como “vulnerável” na Lista Vermelha da UICN. Nesse contexto, os pesquisadores recomendam medidas de proteção direcionadas para as fêmeas grandes e potencialmente reprodutivas: tanto nas águas costeiras como nas áreas oceânicas do sudoeste da Groenlândia, nas zonas offshore do Ártico canadense meridional, no sudeste da Groenlândia e na Islândia.
Os resultados fornecem um roteiro geográfico para a proteção: áreas de parto no Atlântico central profundo, habitats juvenis no Skagerrak e prioridade para as fêmeas adultas em regiões selecionadas.
O estudo foi publicado na revista Ecology & Evolution.