Os encontros com o grande tubarão branco nas águas frias da Nova Inglaterra e do Atlântico canadiano eram, antigamente, uma absoluta exceção – mas isso está a mudar. Quase 50 anos após o clássico do cinema «Tubarão», o temido predador volta às manchetes: cada vez mais tubarões brancos são avistados em costas como Maine ou Nova Escócia. Para pescadores, banhistas e surfistas locais, isso significa ter de se adaptar de repente a um novo vizinho no mar.
Recentemente, o pescador Rick Clough teve uma experiência surpreendente: depois de cerca de 40 anos a pescar lagostas e ouriços-do-mar na costa do Maine, viu pela primeira vez em julho um dos lendários superpredadores. Perto da cidade portuária de Scarborough, um tubarão branco com cerca de 2,4 metros passou por baixo do seu barco – uma estreia que impressionou até o experiente pescador costeiro. «Não tenho a certeza se ainda quero mergulhar à procura de ouriços-do-mar», admitiu Clough.
O avistamento de Clough já não é um caso isolado. No início de agosto, o mariscador David Lancaster filmou com um drone um tubarão branco com cerca de 3,6 metros mesmo em frente às populares praias da sua cidade natal, Scarborough. «Impressionante e realmente incrível de ver», contou entusiasmado – mas admitiu que a cena também o fez perceber que os banhistas terão agora de ter mais cuidado.
Predadores seguem as focas para águas mais frias
Porque é que os grandes tubarões brancos aparecem cada vez mais em regiões do norte? Os cientistas atribuem a tendência sobretudo a uma abundância de presas: graças a leis de proteção rigorosas, a população de focas ao largo da Nova Inglaterra e do leste do Canadá recuperou fortemente nas últimas décadas – atraindo agora os seus inimigos naturais, os tubarões. «Pode simplesmente dever-se a um aumento da oferta de alimento, e esse alimento seriam as focas», explica o investigador de tubarões Greg Skomal. As alterações climáticas também podem desempenhar um papel, já que o aumento da temperatura da água abre novos territórios de caça para estes animais – mas o principal motivo é a caça às focas.
From Maine to Canada, great white sharks are showing up where they rarely used to. Here’s what’s pulling them north. pic.twitter.com/tSX2X9VoXT
— Yahoo News (@YahooNews) August 25, 2025
De facto, os estudos mostram que os predadores estão a expandir cada vez mais a sua área de distribuição para norte. Os grandes tubarões brancos já eram avistados regularmente ao largo de Cape Cod, em Massachusetts, mas agora também surgem ao largo de New Hampshire, Maine e até no Atlântico canadiano. Um estudo recente revelou que o número de tubarões brancos ao largo de Halifax (Nova Escócia) aumentou 2,5 vezes entre 2018 e 2022; no estreito de Cabot, entre a Nova Escócia e a Terra Nova, os registos foram quase quatro vezes superiores aos de há apenas alguns anos. Além disso, os animais marcados passam em média cada vez mais tempo nas águas do norte: em vez de cerca de 48 dias, agora permanecem cerca de 70 dias por temporada no extremo norte, segundo Skomal. Tudo isto sugere que os grandes tubarões brancos se sentem cada vez mais confortáveis em águas mais frias.
Medidas de proteção e ataques raros
Não são apenas as focas, também os próprios tubarões estão há muito tempo protegidos. Nos Estados Unidos, está em vigor desde 1997 a proibição de captura de tubarões brancos em águas federais. Mesmo assim, alguns pescadores tentaram recentemente direcionar-se deliberadamente a estes predadores marinhos – o Massachusetts respondeu em 2024 com a proibição de certos equipamentos de pesca pesada em zonas costeiras onde os animais costumam estar. Estas medidas visam proteger a espécie, já que o grande tubarão branco continua classificado como «vulnerável» na Lista Vermelha da UICN, apesar do aumento local das populações. «Acreditamos que não é uma prática segura pescar tubarões brancos a partir da costa – não apenas porque o tubarão pode morrer no processo, mas também por razões de segurança pública», alerta Skomal.
Para os seres humanos, no entanto, o temido predador marinho representa muito menos perigo do que Hollywood nos quis fazer acreditar. Em todo o mundo, ao longo de toda a história documentada, são conhecidos menos de 60 casos de mortes causadas por ataques de tubarão branco. Mesmo na costa leste da América do Norte, onde agora pessoas e predadores se encontram com mais frequência, os incidentes graves continuam a ser extremamente raros. No Maine, o primeiro ataque fatal de tubarão foi registado em julho de 2020, quando uma nadadora de 63 anos foi morta por um grande tubarão branco ao largo de Bailey Island. «Trata-se de um acontecimento excecionalmente raro», salienta Ashleigh Novak, coordenadora de projeto no Atlantic White Shark Conservancy. Ainda assim, sublinha a importância da sensibilização, «para adaptar o comportamento humano e evitar, tanto quanto possível, encontros negativos entre pessoas e tubarões».
Calma vigilante na costa
A crescente presença de tubarões nas praias da Nova Inglaterra desperta tanto fascínio como receio, mas os especialistas recomendam cautela serena em vez de pânico. Nos meses de verão, os avistamentos de tubarões geram sempre grande atenção nas redes sociais. Uma aplicação móvel chamada «Sharktivity» ajuda a registar em tempo real os avistamentos de tubarões brancos na Nova Inglaterra e a alertar os banhistas. As autoridades também divulgam regras simples de comportamento para reduzir ainda mais o já extremamente baixo risco residual: os nadadores devem permanecer o mais próximo possível da costa e em grupo, evitar salpicos excessivos e não entrar na água perto de focas nem ao anoitecer. Seguindo estas recomendações, o risco de um encontro indesejado com «o tubarão branco» permanece praticamente nulo.
«É louco pensar que agora estão aqui… fica sempre na nossa mente, mas é preciso aceitar», diz David Lancaster, pescador e surfista do Maine.